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Laboratório do INPE avança na modelagem biofísica marinha. Estudos auxiliam conservação e pesca
São José dos Campos-SP, 19 de maio de 2017
Problemas tão distintos como aqueles relacionados à segurança alimentar e à conservação da biodiversidade podem ser atacados com ferramentas capazes de integrar a física do oceano, da atmosfera e a movimentação e sobrevivência de organismos. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos (SP), mantém o Laboratório de Estudos do Oceano e da Atmosfera (LOA), onde se destaca o uso integrado de modelos numéricos do oceano, da atmosfera e dados de satélites.
“São ferramentas com uma base tecnológica sofisticada, ainda ao alcance de poucos grupos de pesquisa no mundo. Além disso, o seu uso colabora na formação de profissionais altamente qualificados para o mercado no Brasil, que ainda é caracterizado por grande oferta de postos de trabalho de baixíssima qualificação”, diz o pesquisador Douglas Gherardi, do INPE.
Além de desenvolver trabalhos de pesquisa na área de interação oceano-atmosfera, por meios de medidas in situ tomadas a bordo de navios oceanográficos e simulações numéricas, desde 2010 o LOA também tem investigado problemas relacionados à sardinha pescada no Brasil.
O objetivo é saber se, de fato, as condições oceânicas determinam as elevações e quedas na produção do pescado. A sardinha é o recurso pesqueiro mais importante do Brasil e sustenta uma ampla cadeia produtiva, além de ser uma fonte de proteína de baixo custo para a população brasileira.
“Nossas pesquisas começaram com a determinação dos ambientes de desova da sardinha, utilizando dados de cruzeiros oceanográficos e de satélite, e de seus padrões de distribuição. Mostramos com o apoio de dados de satélite que o ambiente de desova se expande e se contrai dependendo da temperatura da superfície do mar. Além disso, investigamos as possíveis relações entre o desempenho da pesca e as condições climáticas reinantes durante a sua reprodução. Em seguida, foi necessário testar se as hipóteses levantadas a partir desses resultados científicos poderiam ser reproduzidas em modelos mais complexos. Descobrimos que estes ambientes de desovas são importantes para aumentar a sobrevivência dos ovos e larvas da sardinha”, explica Gherardi.
Artigo recentemente publicado analisou a relação entre a sobrevivência das larvas, determinadas pela temperatura do oceano e suas correntes, com os aumentos ou colapsos da pesca ao longo dos anos. O trabalho reúne resultados de 18 anos de simulações e mostra que, mesmo a desova ocorrendo nos ambientes preferidos pela espécie, a sobrevivência ou morte das larvas não explicam os padrões observados na estatística de desembarque da sardinha.
“Há, certamente, muito a ser feito, mas o uso de modelos hidrodinâmicos (do oceano e da atmosfera) e biológicos, associados a medidas feitas por satélites ambientais continuam sendo o estado-da-arte para obtermos respostas para problemas ambientais complexos que ainda afligem a nossa sociedade”, diz Gherardi.
O pesquisador Luciano Ponzi Pezzi ressalta que o LOA conta com infraestrutura da Coordenação de Observação da Terra do INPE e ainda do Laboratório TerraME-Galileu - Modelagem Ambiental Integrada, na área de computação de alto desempenho. “O LOA está interligado à Rede Temática em Computação Científica e Visualização, voltada à indústria de petróleo e gás e de energias renováveis. Este sistema foi batizado de “Kerana” e tem sido amplamente utilizado para pesquisas básicas e aplicadas em sintonia com a missão do INPE”, destaca Pezzi.
“Igualmente importante é a utilização destas informações para subsidiar as decisões tomadas pelo Estado brasileiro no tocante à conservação de nossos recursos vivos e também ajudar no manejo sustentável destes estoques pesqueiros”, conclui Gherardi.
Trajetórias modeladas das larvas de sardinha desovadas em áreas específicas (mapas superiores) e desovadas aleatoriamente (mapas inferiores), para alguns anos
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